Steve McQueen, conhecido pela intensidade desmedida de sua direção - em "Shame", há cenas sem cortes que duram mais de dois minutos em que quase nada acontece -, em "12 anos" apresenta um trabalho elegante e, na medida do possível, sutil. Não há aqui a necessidade da câmera invasiva de Abdellatif Kechiche ("Azul é a cor mais quente") ou das sequências violentas de Darren Aronofsky ("Réquiem para um sonho"); tratam-se de cenas dramáticas por si só, sem a precisão de acréscimos autorais. Tudo é então conduzido com intensidade controlada, e isso se estende às atuações: Ejiofor, por maior que seja o sofrimento do seu personagem, não cai no overacting, dando a Solomon os traços necessários de um escravo que já experimentou a liberdade; o irlandês Michael Fassbender, habitual parceiro de McQueen, interpreta com verossímil voracidade um senhor de escravos embriagado pelo poder de tratar seres humanos como suas propriedades; e, com um desespero contido e perturbador, a mexicana Lupita Nyong'o faz sua estreia no cinema numa personagem forte que experimenta o limite da humilhação humana.
McQueen manipula o espectador com a maestria de veteranos como Steven Spielberg e com a razoável sutileza de uma trilha pontual e uma fotografia cuidadosa. É um dos - talvez o - melhores dramas a trazer às telas uma ferida que permanece sangrando por toda superfície da América.
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