terça-feira, agosto 27, 2013

"isso não é cultura; é muito vulgar"

Shakespeare era considerado vulgar.

Vladimir Nabokov era considerado vulgar.

Hilda Hilst era considerada vulgar.

Drummond era considerado vulgar.

Por isso morro de preguiça quando alguém cita o uso da vulgaridade para invalidar algo. Na verdade, acho que a vulgaridade é muito subjugada. É afinal grande pecado ser vulgar? Significa uma baixeza moral muito grande? Dá cistite?
Eu sinceramente acho que a cultura humana perderia muito não fosse a vulgaridade. Em todas as suas formas ela revela o que há de mais animal - e, talvez, verdadeiro - em nós. As pessoas precisam de esforço para serem sensuais ou eróticas - mas a vulgaridade, ela vem naturalmente. A vulgaridade é pura, é bruta. A vulgaridade é sincera. A vulgaridade só é ofensiva porque nós queremos que ela seja. Se não fosse, as pessoas se sentiriam livres, e nós não sabemos administrar essa liberdade. Se não condenássemos quem não contém os próprios corpos e a si mesmos, o que restaria da nossa fina moral e do nosso senso de segurança? Teríamos que rasgar os contratos que assinamos para que fizéssemos parte da vida social, se aceitássemos a vulgaridade do outro?

A experiência humana é muito cansativa. Fingir-se invulgar piora isso.

Um comentário:

  1. Somos capazes de delimitar o que é cultura ou não? Estava lendo uma matéria a respeito do Funk, e o quanto descriminam esse gênero musical. Me senti como me sinto agora após ler seu texto, com a sensação de que não somos capazes de delimitar nada.É tão ofensivo julgar o próximo, a cultura alheia. Afinal, o violão era coisa de vagabundo, né? e que vagabundice maravilhosa, aliás.

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