sábado, agosto 14, 2010

Abre parênteses. Na verdade, não sei por que abri esses parênteses se a própria vida não carece deles. Ora, não tenho vivido eu um grande parêntese? Não tenho sido eu uma grande meia lua, calada, pálida, tonta? Não tem o ano se estendido e tocado-me com seus dedos longos de meses inconstantes, me provocando a fazer alguma coisa? Não tenho eu andado pelos incômodos da casa, procurando algo que me sustente, que me justifique? Por vezes eu sorrio, porquanto consigo me manter por fora. Me vejo cansado de tantos dias. Acontece que estou farto. Não sei do que, não me pergunte do que. Sinto como se estivesse prestes a vomitar. Não sei o que, não me pergunte o que. A bile me sobe a garganta e vai embora, como se desistisse se sair, e sinto a cabeça doer-me, como se o cérebro, antes inútil, pesasse. Tirei zero numa prova. Não sei de que, não me pergunte de que. Talvez seja a de matemática que fiz - fiz? - outrora, de manhã. Talvez seja uma maior e mais duradoura que não sei ainda qual é e pretendo continuar assim até o fim do ano. E o ano, não tem fim? Se o tem, por que é tímido e parece afastar-se? Na verdade, pouco importa. O que importa é que os anos acabam, esses anos de vinte e tantos meses, alegremente acabam, tortuosamente acabam, esdruxulamente acabam. Na verdade nem isso importa. O que importa? Não sei o que, não me pergunte o que. Sinto-me como o conteúdo de uma jarra vazia despejado num copo igualmente vazio e por fim derramado num terceiro depósito vazio, numa mistura homogênia e sem sentido. A verdade é que tenho preguiça. Minto; a verdade é que tenho sono, mas tenho preguiça de ir dormir. Faltam cinco horas para a semana se acabar, me acabar. Sete dias tão fugazes e eu não me envolvi. Com nada, quero dizer. Com ninguém, quero dizer. Nem com livros ou com músicas ou com filmes ou com pessoas ou com palavras ou com chaveiros. Sete dias tão fugazes e tão fáceis de se esquecer, de me esquecer. Minha cabeça continua doendo. Consequência desses dias monótonos que me perseguem. Tenho de fazer alguma coisa. Não sei o que, não me pergunte o que. Fecha parênteses.

5 comentários:

  1. Spo é uma forma de encarrar a tua vida, pois também diria que dentro de ti esteja cheio demais e sem espaço para nada mais superfluo...

    Um abraço Bertonie.

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  2. Você tem que arranjar uma namorada, é isso.





    :)

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  3. A propósito eu moro na Bahia também e oi ;)

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  4. Minha nossa, to impressionada!
    Apresar do conteúdo do texto ser um tanto deprimido, vc escreve muito bem!!!! =]
    Gostei viu????

    Beijooooo Bert...

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  5. Sinceramente Bertonie, esse foi um dos textos mais bacanas que já li.
    Tenho inveja de você (brincadeira).

    Beijo vida!

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Obrigado por comentar; você fez uma criança feliz :D