quinta-feira, setembro 16, 2010


Eu sentei e pensei no dia em que você irá morrer. E pensei que esse dia será um dia bonito, o sol se pondo laranja e alegre, crianças correndo na rua, adolescentes às gargalhadas, teu sangue a cair vermelho em slow motion, teu rosto pálido caindo em estagnação infinita, os olhos revirando-se e nunca mais voltando ao normal. E pensei que morderei veneno e que não morrerei, porque nada mais vai me matar - tua morte me fará vil e forte como nenhum outro um dia já foi. E pensei que sorrirei feliz pela primeira vez na vida, lamberei teu pulso estático, morderei teu pescoço, beliscarei teu queixo, morrerei de rir jogando para cima teu sangue leve e quente e molhado. E pensei que me arrependerei do que fiz e, tristonho, chorarei por não saber onde esconder teu corpo já gelado e morto. E pensei que, ao esconder-te em porta-malas de carro grande e arremessá-lo ao penhasco, como em filme de ação, me esconderei em porão escuro vendo eternamente as fotos do teu sangue caindo, caindo e caindo ao âmago ensimesmado, ao gozo fugaz de uma vida inacabada.